5 Lições Pré-Históricas na Serra de S. Mamede

Uma viagem pelo património megalítico do Norte Alentejano

O Norte Alentejano é uma das mais remotas e autênticas áreas de Portugal. Uma terra de contrastes que pode ir dos 40º à sombra a temperaturas negativas em menos de 24 horas. Esta zona pouco explorada por aventureiros e viajantes é habitada por gente sábia que aprendeu que o tempo, tal como a natureza, não se controla nem se mede em números. Quem se demora por esta região aprende que aqui esse tempo que medimos em segundos, minutos, horas ou dias, afinal não existe. Aqui tudo é eterno, intemporal.

Não será por acaso que é no Norte do Alentejo – mais concretamente no Parque Natural da Serra de São Mamede – que se encontra um importante património megalítico. Um conjunto generoso de construções erigidas entre o V e o II milénio a. C. por antepassados longínquos.

Numa abafada tarde de Verão partimos à procura dessas pedras milenares, guardiãs do segredo da longevidade, esperando descobrir o que as fez assim. Não regressámos imortais mas em cada uma aprendemos algo que, se quisermos, pode muito bem ser eterno. 

1 Anta do Sobral: Devagar se vai Longe

Cercada por uma manada de vacas, vamo-nos aproximando devagar como que a pedir licença. Sem nunca nos perder de vista, as vacas afastam-se lentamente. Neste acordo de paz silencioso, chegamos perto desta disposição de pedras em círculo onde se apoia uma laje que faz de tecto. Lá dentro está fresco. Deixamo-nos ficar uns momentos a aproveitar a conveniente pausa no calor. As vacas e a sua lentidão juntaram-se à pacatez da anta para nos ensinarem que a pressa pode ser o nosso pior inimigo. Porque nos desvia a atenção daquilo que pode ser realmente ameaçador e porque nos consome as poucas energias tão preciosas para nos manter funcionais debaixo de temperaturas tão extremas.


2 Anta da Melriça: Quietude não é preguiça

Encostados a um dos seus lados, imaginamos o que já lhe foi dado a observar: praticamente toda a história da humanidade. E, nós, enquanto vamos e vimos, inventamos, desejamos, fazemos, compramos, viajamos, descobrimos, consumimos e vivemos nesta pressa desenfreada de chegar a uma meta que só existe nas nossas mentes, desaparecemos aos poucos na sofreguidão da existência humana. Por oposição, a Melriça, consciente do segredo que existe no seu lugar de quietude, onde o tempo não conta, há-de sobreviver a tudo isto. Há-de sobreviver-nos a nós. “Aquietem-se!” aconselha-nos em silêncio.


3 Chafurdão das Lancheiras: Se não os podes vencer, junta-te a eles.

Há pouca consistência entre os entendidos sobre a real função destas construções. Sepulturas, abrigo de pastores, pequenas casas ou currais, o que é certo é que é raro o chafurdão que não tem a sua porta virada a nascente. Neste há pouco a explorar. As silvas encarregaram-se de aproveitar a aceitação total da sua presença e invadiram-no. Crescem determinadamente à sua volta, impedindo a aproximação dos mais curiosos. O que aprendemos: a rendição ao que não controlamos não é necessariamente mau. Pode até servir para afastar intrusos indesejados. 


4 Anta dos Currais das Galhordas: Unidos venceremos

Certamente que os dois carvalhos que ladeiam esta anta são uns jovens ao pé dela nas suas modestas centenas de anos de idade. Aprendizes e mestre mantêm a mesma atitude. Quietos, como que indiferentes ao que os rodeiam, vão absorvendo tudo o que se passa: ora recebem o sol de frente, ora acolhem os pingos de chuva, oram suportam uma comunidade de abelhas que ali instala a sua colmeia, ora oferecem sombra a um coelho apressado fugido do olhar persistente de uma ave de rapina que voa lá no alto. Daqui levamos duas lições: Não vivas só, junta-te aos outros e serás mais forte. E não te esqueças de ouvir os velhos. Eles sabem mais que tu. Não porque tenham estudado mais mas porque já viveram mais. 


5 Menir da Meada: Afinal o tamanho conta

Supõe-se que os menires foram construídos pelos nossos antepassados para garantir a fecundidade não só das tribos mas também da natureza, o que lhes garantia alimento. O menir da meada é orgulhosamente o maior da península Ibérica. Entre os seus quatro metros de altura e 15 toneladas de peso, certamente que cumpre o seu propósito. Como que a confirmar a eficácia com que exerce a sua função, uma manada de gamos selvagens aproxima-se num misto de medo e curiosidade. O clique da máquina fotográfica faz com que desapareçam rapidamente. Mas o menir, esse mantém a sua posição altiva sem indício de receio ou ameaça. Sim, o tamanho importa, mesmo quando é apenas uma questão de atitude. 

Regressamos guiados pela luz das estrelas que vão aparecendo no céu. O calor do dia começa a largar os nossos corpos na mesma pressa com que toda esta realidade existe. Seguimos com a sensação de que não existe eternidade nas nossas existências. A perpetuação de cada um está na capacidade de honrar a sua paixão. A nossa é sair de casa e descobrir o mundo. As memórias de viagens e aventuras que colecionamos são a nossa melhor fonte de eternidade. 

Junta-te a nós nesta descoberta do tempo milenar da Serra de S. Mamede. Para datas, valores e outras informações, contacta-nos aqui.

Lanzarote: Uma Jornada Interior na Terra do Vulcão

Há cerca de uma década, aterrei em Lanzarote, a ilha vulcânica que foi a casa de José Saramago. Este pedaço de paraíso atlântico, com sua origem forjada em erupções vulcânicas, exibe um solo de lava que oferece à paisagem uma beleza árida. Naquela altura, assim como a terra que escolhi visitar, a minha mente passava por um período de aridez. 

Descobrir a beleza na aridez

Nos primeiros dias, a ausência de vegetação transmitiu-me a sensação de monotonia. Mas à medida que a ilha se revelava, eu ia-me também descobrindo. Percebi que, embora a vegetação pudesse ser escassa, a vida brotava em lugares inesperados. Tal como a nossa própria jornada interior.

A minha mente, tal como a paisagem, estava num estado de aridez emocional. Lidava com a perda e a exaustão do frenético mundo televisivo onde trabalhava. A prática meditativa ainda não fazia parte da minha realidade. Ainda assim, o abrandar e o simplificar eram verbos que já estavam em mim. Investi tempo a olhar para o horizonte, a contemplar o vazio aparente que se manifestava à minha frente.

A metáfora constante da transformação

Hoje, Lanzarote é mais do que uma recordação; é uma metáfora constante da nossa capacidade de transformação. Comparo-a ao terreno da mente, onde os pensamentos brotam como as flores no deserto. A meditação, agora parte integrante da minha vida, tornou-se a água que nutre a minha paisagem interior, e me ajuda a revelar o meu potencial latente.

Assim como os agricultores que desafiaram a aridez de Lanzarote, podemos cultivar recantos férteis na nossa própria mente. Em vez de evitar as áreas aparentemente menos interessantes, a meditação nos convida a explorá-las, olhando-as como oportunidades de transformação e crescimento.

A prática diária torna-se uma jornada de descoberta, onde as dificuldades são transformadas em oportunidades de visualizar a realidade sob uma nova luz.

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